segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A arte de escavar alegações: Encenação

 

LUCIANO AYAN

Recentemente, vi o discurso de uma líder marxista (que se auto-entitula como “filósofa”), Marilena Chauí, na qual ela desenvolve uma teoria de que as pessoas do estado de São Paulo são “diferentes” das que vivem no restante do país. Seriam mais “pedantes” ou “pequeno burguesas” em relação aos demais brasileiros. Obviamente, uma cantilena repetida ad nauseam por petistas indignados com o mero fato de que o estado de São Paulo é um reduto no qual o PT ainda não estipulou seu poder de forma totalitária. A não-conquista do Estado de São Paulo pode ser até considerada como uma das restrições que estão, ainda que de forma frágil, impedindo que o PT possa se definir como um “dono” do Brasil, assim como Hugo Chavez o faz na Venezuela. É claro que isso deve deixar a Sra. Marilena Chauí revoltadíssima. Ver abaixo:

No vídeo, Marilena executa um preconceito sem igual, conta uma historinha (tecnicamente, uma evidência anedotal, provavelmente produto da imaginação fértil dela), e, em sua conclusão, ainda diz que todo o ocorrido foi uma “violência extrema”. É claro que não podemos considerar nada do que está acima como sequer uma argumentação válida, mas sim uma encenação teatral.

Não é por que Marilena diz, de forma  exagerada, que algo uma “violência extrema” que algo de fato seja uma “violência”, assim como uma série de gestos seriam o suficiente para dar validade à toda a sua história provavelmente inventada (para a qual ela quer dar ares de um “fato”, e ainda estabelecer sua teoria anti-Estado de São Paulo) e esconder o fato de que ela é a praticante do discurso de ódio, enquanto acusa os outros de fazê-lo.

Em um outro post, mencionei uma situação na qual um historiador diz que “é um absurdo” que alguém apoie as ideias de Silas Malafaia. Exatamente como no caso de Marilena Chauí, o que temos neste caso é uma encenação vinda de um esquerda para obter algum benefício psicológico perante a platéia. Abaixo, a definição de encenação, de acordo com o Dicionário Michaelis:

sf (encenar+ção) 1 Ato ou efeito de encenar. 2 Conjunto de tudo quanto se destine a obter o ambiente visual, necessário ao desenvolvimento do assunto, numa representação teatral ou cinematográfica. 3 Conjunto de disposições organizadas para iludir alguém; fingimento.

Encenações, portanto, são uma forma de alegação, que buscam endossar outras idéias apresentadas pelos seus proponentes. Como todas as alegações inválidas devem ser demolidas pelo paradigma do ceticismo político aqui defendido, as encenações devem sempre ser desmascaradas.

A melhor forma de desmascará-las é denunciar a alegação embutida por trás da alegação, refutando-a, caso aplicável, e posteriormente denunciar a própria encenação em si. Algo como dizer para a platéia que estamos diante de um picareta, desonesto e que está recorrendo a truques de teatro para ganhar o debate. Deixe também explícito qual o truque, e não se furte em dizer que o outro está perdendo a dignidade ao fazer isso.

Para jamais esquecer: o efeito de uma encenação tende a ser forte, e este efeito só pode ser neutralizado por um desmacaramento incisivo (com posterior ridicularização) do ato.

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