quinta-feira, 12 de abril de 2012

VEJA O QUE ERA O NAZISMO

Jogo de vida ou morte

Domingo, 10/07/2011

Domingos Pellegrini

O Dínamo de Kiev era um grande time de futebol da Ucrânia, quando ela foi invadida pelos nazistas em 1940 e o time foi dissolvido.

Os jogadores arranjaram emprego onde puderam e, depois, com saudade do futebol, passaram a bater bola num terreno baldio, formando um time chamado Starte (que significa “começo”). Logo tinham platéia, e então os alemães, querendo ser simpáticos para o povo, lhes ofereceram um estádio vago para jogar, e eles aceitaram.

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Logo os alemães convidaram para um jogo contra a seleção dos militares locais, e os rapazes do Dínamo, embora mal alimentados e fracos, venceram. Os alemães, inconformados, marcaram nova partida contra uma seleção melhor, mas o Starte voltou a vencer, desta vez por 6 a zero.

O jornal alemão em Kiev noticiou: “Essa vitória não pode ser considerada uma façanha dos jogadores do Starte”, alegando falta de treinamento e entrosamento dos alemães. Então marcaram novo jogo, contra a seleção da Hungria. O Starte venceu por 5 a 1.

Os húngaros pediram revanche. O Starte venceu por 3 a 2.

Foi então marcado pelos alemães mais um jogo, contra a “poderosíssima” e “invicta” seleção das forças armadas alemãs, a Flakelf. E, para demonstrar ao povo ucraniano a superioridade alemã, metade do estádio foi enchido com ucranianos.

Vários dos jogadores do Starte trabalhavam numa padaria e, mesmo comendo muito pão, comiam quase que apenas pão, e não teriam energia para enfrentar os fortes, altos e vigorosos alemães, que logo marcaram um gol. Mas então os jogadores do Starte, vendo o humilhado silêncio de seu povo, reagiram e empataram.

O público ucraniano começou a gritar e a se abraçar. O Starte marcou o segundo gol. Na arquibancada, gente andrajosa e emagrecida gritava “estamos vencendo os alemães!”, que passaram a disparar para o ar. Enquanto isso, os jogadores alemães faziam faltas fortes nos jogadores do Starte, mas o juiz alemão nada apitava.

No intervalo, um oficial foi ao vestiário prevenir o Starte: tinham jogado bem, era louvável, mas, no segundo tempo, precisavam perder, pois a seleção alemã nunca tinha sido derrotada.

– Se não perderem, vocês vão morrer.

Eles ouviram em silêncio, voltaram para o campo e marcaram o terceiro gol. Depois o quarto. Depois um jogador do Starte driblou o goleiro e, em vez de fazer o gol, chutou a bola para o centro do campo. Os alemães interromperam a partida, esvaziaram o estádio e o jornal nada comentaria.

Deram nova chance ao Starte de perder para o time nacional ucraniano, o Rukn, e o Starte venceu por 8 a 0. Os russos aproximavam-se de Kiev, e os alemães, então, resolveram se livrar do problema futebolístico, matando os jogadores do Starte.

Depois da guerra, foi erguido na entrada do principal estádio do país um monumento aos mártires do futebol, como são chamados na Ucrânia.

Li essa história há 40 anos, contada por Anatoly Kuznetsov no livro Bábi Iar (nome do local onde sacrificavam os prisioneiros, depois enterrados em valas coletivas). Dei o livro a biblioteca pública numa das mudanças de casa, e agora reencontrei num sebo, só para reler o trecho sobre os jogadores do Starte.

Lembrava deles sempre que ouvia falar em “jogo de vida ou morte”, significando apenas jogo fatal para o rebaixamento ou vitória de um time num campeonato, enquanto, no caso deles, foi realmente um jogo de vida ou morte.

Se um dia for à Ucrânia, me ajoelharei diante do monumento e lhes direi: rapazes, vocês perderam a vida mas ganharam o que nenhum time ganhou até hoje neste mundo, o orgulho de legar um exemplo imortal.

Vocês, sim, deram um show de bola!


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