Hoje a VEJA online publicou dois artigos mostrando o FORO DE SÃO PAULO e as eleições na Venezuela. Os artigos estão abaixo. Publiquei na sequência outros dois artigos, um da FOLHA DE SÃO PAULO e outro do PRAVDA (jornal russo, versão português) mostrando a relação FARC <-> FORO DE SÃO PAULO.
A quantidade de material que existe vai muito além disto que está abaixo.
Espero que mais e mais pessoas acordem para esta realidade, a relação FARC <-> FORO DE SÃO PAULO nos dois últimos artigos.
VEJA
Foro de São Paulo virou parte da campanha de Chávez
Em sua 18ª edição, encontro de partidos de esquerda ocorre em Caracas
Por Duda Teixeira, de Caracas
Foro de São Paulo reúne esquerdistas em Caracas, na Venezuela (Alexandre Schneider)
Começou hoje em Caracas, a capital da Venezuela, a 18a edição do Foro de São Paulo, encontro anual que reúne cerca de 600 delegados de partidos de esquerda da América Latina e do resto do mundo.
O evento foi criado em 1990 pelas lideranças brasileiras do Partido dos Trabalhadores (PT) e pela ditadura cubana com a meta de propor "alternativas ao capitalismo". Como nenhuma alternativa factível até hoje se materializou, o objetivo ostensivo continua o de sempre. O lema de 2012 é Os povos do mundo contra o neoliberalismo e pela paz.
Na prática, contudo, o Foro deste ano tornou-se uma extensão da campanha para presidente de Hugo Chávez, que em outubro enfrenta o candidato opositor Henrique Capriles. A imagem do caudilho estava em toda parte. Pelos corredores, dizia-se que ele, em pessoa, pode aparecer na sexta-feira nos salões do Alba Caracas, hotel estatizado recentemente, para encerrar o encontro.
A ideia de que o Foro é um veículo para reforçar a campanha de Chávez e espalhar sua revolução bolivariana foi expressa tanto por pessoas ligadas ao governo quanto por grupos de oposição. Esses últimos observaram que a reunião constitui uma ingerência no processo eleitoral. Defensores de Chávez, como a ex-senadora colombiana Piedad Córdoba, preferiram enxergar no evento uma ratificação da peculiar "democracia" venezuelana. Se Chávez vencer as eleições de outubro, estará a caminho de completar vinte anos no poder.
"Ingerência" foi palavra proibida também ao se falar de Paraguai. Na última sexta-feira, o governo paraguaio revelou que o chanceler venezuelano Nicolás Maduro esteve em Assunção durante a votação do impeachment do ex-presidente Fernando Lugo e fez contato com militares, tentando articular uma resistência à deposição do mandatário, que seguiu a legislação do país. Nesta segunda, um vídeo foi divulgado demonstrando que Maduro realmente fez contato com oficiais do exército. Isso motivou a expulsão do embaixador venezuelano de Assunção, ao mesmo tempo em que tinha início o encontro de esquerdistas em Caracas. Os participantes do Foro peroraram muito contra a queda de Lugo, um dos coadjuvantes da revolução bolivariana. Mas fizeram de conta que a conspiração de Nicolás Maduro - e o vídeo que a comprova - jamais existiu.
VEJA
A imprensa a serviço do Foro
Quase todos os jornais, sites e canais de televisão que cobrem o Foro de São Paulo, em Caracas, são estatais e favoráveis ao presidente Hugo Chávez
Duda Teixeira, de Caracas
Jornalistas que cobrem o Foro de São Paulo, em Caracas (Duda Teixeira)
Quase todos os jornais, sites e canais de televisão que cobrem o Foro de São Paulo, em Caracas, são estatais e favoráveis ao presidente Hugo Chávez. Na sala dedicada aos jornalistas que fica no hotel Alba Caracas, uma das três mesas foi reservada ao pessoal do Ministério Popular para a Comunicação e Informação.
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Há treze televisores de tela plana distribuídos pelo local, todos sintonizados em um mesmo canal estatal, o ANTV.
Durante a transmissão ao vivo de uma sessão parlamentar na Assembleia Nacional, na quarta-feira, 4, um deputado gritou ao final de sua fala: “Viva Chávez!”. Alguns jornalistas da sala do hotel aplaudiram e responderam alto: “Viva!”.
Para cobrir o encontro, é preciso inscrever-se no tal Ministério do Poder Popular. Não importa que se trate de um evento partidário, o pedido deve ser endereçado diretamente ao governo. A credencial deve ser retirada em uma sala recém-montada no centro da cidade, perto da Praça Bolívar, e que pertence ao estado. Claro.
FOLHA DE SÃO PAULO
24/08/2003 – 05h46
''As Farc têm todo o tempo do mundo'', diz comandante
FABIANO MAISONNAVE
da Folha de S.Paulo, Enviado especial à Colômbia
Leia a seguir entrevista concedida à Folha de S.Paulo na última terça-feira pelo comandante das Farc Raúl Reyes em algum ponto da Amazônia colombiana.
Folha de S.Paulo - A Fundação Segurança e Democracia divulgou dados comparativos entre o primeiro semestre do governo Uribe, em 2003, e o primeiro semestre de 2002, ainda sob o governo Pastrana, que mostram uma intensificação das ações militares do governo e um recuo das Farc. Por que isso ocorreu?
Raúl Reyes - Não sei, não tenho idéia, mas lhe digo: de onde eles tiram essa informação? Da inteligência militar, que fala de milhares de guerrilheiros mortos, de guerrilheiros desertores, feridos, o que não é verdadeiro. Mas as Farc não estão competindo para ver quantas ações fazem, temos um plano próprio que não pode ser submetido à avaliação das autoridades colombianas. As Farc realizam suas ações quando consideram necessárias.
O grave problema para Uribe é que só faltam três aninhos para governar, e as Farc têm todo o tempo do mundo, são 39 anos de luta. Levaremos todo o tempo necessário para alcançar nossos objetivos. A pressa é do sr. Uribe. Não é da competência das Farc ver quem mata mais.
Folha de S.Paulo - No mês passado, o sr. anunciou o envio de uma proposta de negociação à ONU. Qual foi o teor dessa proposta?
Raul Reyes - O que temos pedido é uma negociação de paz com o Estado colombiano. Com um governo que esteja interessado em investir na paz, e não em continuar a guerra, não em continuar a eliminação dos colombianos como está fazendo Uribe. As Farc propõem iniciar um diálogo, mas depois que o governo desmilitarizar dois Departamentos [Estados], Caquetá e Putumayo.
O que solicitamos à ONU é que, assim como tem ouvido várias vezes o governo colombiano e o próprio Uribe, que também nos receba como uma nação política, revolucionária e de oposição ao governo colombiano para explicarmos o nosso ponto de vista.
Folha de S.Paulo - As Farc já receberam alguma resposta da ONU?
Reyes - Sim, recebemos do próprio secretário-geral [Kofi Annan] uma resposta muito positiva, dizendo que tem o maior interesse em estabelecer um diálogo conosco e insinuou que poderia ser no Brasil. Gostaria muito que fosse no Brasil, um país irmão da Colômbia. Mas não há nenhuma definição até agora, nem por parte da ONU nem por parte das Farc.
Folha de S.Paulo - Essa proposta de negociação não é um recuo das Farc?
Reyes - Não, de forma alguma, as Farc não erraram porque foi Pastrana quem interrompeu o diálogo. A comunidade internacional sabe que as Farc até a última hora enviaram propostas viáveis para a continuidade do diálogo, mas o governo já tinha decidido liquidar o processo de paz.
Folha de S.Paulo - A ruptura ocorreu após as Farc terem sequestrado o senador Jorge Gechem Tubay. Uma ação dessas não é um convite à interrupção das negociações?
Reyes - Não, porque os diálogos ocorriam em meio à guerra. Não havíamos assinado nenhum cessar-fogo bilateral.
Folha de S.Paulo - Mas o senador não era um alvo militar.
Reyes - Na Colômbia os senadores legislam contra o povo, pressionam os trabalhadores com mais impostos, aprovam leis contra a insurgência, aprovam todas as leis repressivas.
Folha de S.Paulo - Como as Farc definem uma ação militar legítima?
Reyes - O objetivo é a captura desses senadores e deputados para conseguir a liberação dos guerrilheiros e guerrilheiras que estão nas prisões colombianas. O governo tem se negado a assinar um acordo de troca humanitária.
Folha de S.Paulo - As Farc são acusadas de executar atos terroristas em cidades, como o ocorrido em fevereiro, em Bogotá, com 36 mortos.
Reyes - As Farc não têm nenhuma responsabilidade sobre essa ação em Bogotá. Mas, logo depois que os EUA decidiram classificar como terroristas todas as organizações contrárias à sua política, na Colômbia, Uribe também chama de terroristas todas as ações que interessam ao povo.
Folha de S.Paulo - Como tem sido o contato entre as Farc e o governo do Brasil?
Reyes - Agora, nenhum. Estamos muito interessados em um contato direto, porque as Farc têm como política estabelecer relações políticas com governos, para explicar a eles que temos uma política que consiste em não realizar operações militares fora do território colombiano.
Folha de S.Paulo - Qual é a sua avaliação do governo Lula?
Reyes - Tenho muita esperança em que o governo Lula se transforme num governo que tire o povo brasileiro da crise. Lula é um homem que vem do povo, nos alegramos muito quando ele ganhou. As Farc enviaram uma carta de felicitações. Até agora não recebemos resposta.
Folha de S.Paulo - Vocês têm buscado contato com o governo Lula?
Reyes - Estamos tentando estabelecer --ou restabelecer-- as mesmas relações que tínhamos antes, quando ele era apenas o candidato do PT à Presidência.
Folha de S.Paulo - O sr. conheceu Lula?
Reyes - Sim, não me recordo exatamente em que ano, foi em San Salvador, em um dos Foros de São Paulo.
Folha de S.Paulo - Houve uma conversa?
Reyes - Sim, ficamos encarregados de presidir o encontro. Desde então, nos encontramos em locais diferentes e mantivemos contato até recentemente. Quando ele se tornou presidente, não pudemos mais falar com ele.
Folha de S.Paulo - Qual foi a última vez que o sr. falou com ele?
Reyes - Não me lembro exatamente. Faz uns três anos.
Folha de S.Paulo - Fora do governo, quais são os contatos das Farc no Brasil?
Reyes - As Farc têm contatos não apenas no Brasil com distintas forças políticas e governos, partidos e movimentos sociais. Na época do presidente [Fernando Henrique] Cardoso, tínhamos uma delegação no Brasil.
Folha de S.Paulo - O sr. pode nomear as mais importantes?
Reyes - Bem, o PT, e, claro, dentro do PT há uma quantidade de forças; os sem-terra, os sem-teto, os estudantes, sindicalistas, intelectuais, sacerdotes, historiadores, jornalistas...
Folha de S.Paulo - Quais intelectuais?
Reyes - [O sociólogo] Emir Sader, frei Betto [assessor especial de Lula] e muitos outros.
Folha de S.Paulo - No Brasil, as Farc têm a imagem associada ao narcotráfico, em especial com o traficante Fernandinho Beira-Mar. A Polícia Federal concluiu que ele esteve na área das Farc junto com Leonardo Dias Mendonça. O sr. confirma?
Reyes - Não sou um policial, sou um revolucionário. A Colômbia não é tão grande como o Brasil, mas tem 1.142.000 km2, e as Farc estão presentes em todo o país. Qualquer um que chegue do Brasil, da Europa ou dos EUA a qualquer um dos Departamentos da Colômbia, pode vir a ter contato com a guerrilha.
Folha de S.Paulo - A PF afirma que as Farc forneceram cocaína a Fernandinho em troca de armas.
Reyes - A polícia diz qualquer coisa, porque recebe ordens para dizer e inventar coisas.
Folha de S.Paulo - As Farc mantêm relação com traficantes brasileiros?
Reyes - Que eu saiba, nenhuma. Isso faz parte da campanha para justificar o que os EUA estão fazendo na Colômbia, intervindo nos assuntos internos do país. Mas os EUA não combatem o narcotráfico em seu próprio território. Os camponeses colombianos produzem coca e papoula, são trabalhadores da terra. Quem compra? Os narcotraficantes do mundo. E quem consome? Os gringos.
Folha de S.Paulo - Qual é a relação entre as Farc e os traficantes que compram droga dos camponeses?
Reyes - As Farc cobram imposto desses comerciantes, que compram dos camponeses. Não apenas dos que vendem coca, mas também dos que produzem grandes quantidades de soja, arroz, milho. Não se cobra dos camponeses, mas dos comerciantes.
Folha de S.Paulo - As Farc têm sido acusadas de produzir sua própria coca.
Reyes - Absolutamente falso, as Farc são uma organização revolucionária, que luta pelo poder. Produzimos alimentos para nossos guerrilheiros. A cocaína é um veneno.
Folha de S.Paulo - Recentemente, houve um grande problema diplomático entre Brasil e França por causa de uma suposta negociação daquele país com as Farc para libertar a ex-candidata a presidente Ingrid Betancourt. As Farc negociaram com o governo francês?
Reyes - Nenhuma negociação. Tudo o que nós sabemos foi o que saiu na imprensa. A notícia nos surpreendeu. Ela está muito bem de saúde e de ânimo, mas está triste, como estão todos os que não recuperaram sua liberdade, alguns nos presídios do Estado colombiano, tristes porque não podem sair de lá. Os que estão na selva também estão tristes. Por isso, estão muito interessados na troca de prisioneiros para que todos recuperem sua liberdade.
Folha de S.Paulo - Que relação as Farc mantêm com o governo venezuelano?
Reyes - Estamos propondo ao governo de Hugo Chávez uma explicação sobre a política das Farc em relação aos países vizinhos.
Folha de S.Paulo - Existe contato ou não?
Reyes - Temos informações muito positivas sobre Chávez, um bolivariano patriota que luta pela dignidade do seu povo. Nós o admiramos muitíssimo.
Folha de S.Paulo - O sr. acredita numa intensificação da ajuda militar americana à Colômbia?
Reyes - É possível que aumente, é o que tem feito o sr. Bush e é o que Uribe está pedindo aos gritos. Ele está desesperado porque não pode alcançar nenhum resultado contra a guerrilha. Uribe é um fantoche norte-americano. Funcionários americanos vêm à Colômbia em romaria para ver se Uribe está realizando as tarefas direito.
PRAVDA
FARC: Saudação ao Foro de São Paulo
25.01.2007
Pages: 1 / 2
Mesa Diretora, Companheiros Delegados e Companheiras Delegadas ao XIII Foro. San Salvador, El Salvador. Recebam nossa carinhosa e bolivariana saudação, muitos êxitos em suas deliberações.
Ao não podermos nos fazer presentes em tão importante evento, lhes entregamos este documento com nossos pontos de vista e agradecemos de antemão o fato de tê-lo em conta nas deliberações.
Queridos companheiros.
Em 1990 já se via vir abaixo o campo socialista, todas as suas estruturas fraquejavam como castelo de cartas, os inimigos do socialismo festejavam a mais não poder, se cunhavam teorias como a do fim da história, muitos revolucionários no mundo observavam atônitos e sem conhecer o que havia falhado para que ocorresse semelhante catástrofe.
A utopia se dissipava, a desesperança se apoderou de muitíssimos dirigentes que haviam dedicado toda sua vida à luta por conquistar um mundo melhor, idealizando-o com o modelo de socialismo desenvolvido da União Soviética.
Ao derrubar-se esse modelo, para muitos se acabou a motivação de luta e só ficamos uns poucos sonhadores que nos mantivemos e seguimos mantendo na teoria, na política e na realidade de novas expressões de socialismo, o que potenciou a decisão de luta e acelerou o crescimento e fortalecimento desse contingente de sonhadores que vê nessa luta por um mundo melhor algo realmente possível.
Na Ásia: China, Vietnam e Coréia do Norte tremulavam suas bandeiras socialistas sem dar espaço ao derrotismo e sem escutar os cantos de sereia para que abandonassem o sistema que se lhe opunha ao capitalismo.
Na América: Cuba ficou só, navegando na crise mais profunda que tocou viver a país algum, com seu comércio que alcançou níveis de queda que não poucos acreditavam impossível de reverter dado a brusca mudança nas fontes e condições de seu comércio exterior. O imperialismo acreditou equivocadamente que havia chegado o momento de acabar com o socialismo na América, aumentou sua agressão com o bloqueio econômico, comercial e financeiro, sem importar a vida de milhões de crianças e anciãos que sofreriam as conseqüências de tão louca manobra.
É nesse preciso momento que o PT lança a formidável proposta de criar o Foro de São Paulo, trincheira onde nós pudéssemos encontrar os revolucionários de diferentes tendências, de diferentes manifestações de luta e de partidos no governo, concretamente o caso cubano. Essa iniciativa, que encontrou rápida acolhida, foi uma tábua de salvação e uma esperança de que tudo não estava perdido. Quanta razão havia, transcorreram 16 anos e o panorama político é hoje totalmente diferente.
O outrora imperialismo arrogante e prepotente está afundado numa profunda crise que ninguém sabe quando nem como terminará. As brutais e ilegítimas agressões contra os povos de Afeganistão, Iraque e Líbano têm recebido respostas inesperadas e, a cada dia, jogam no desconcerto o governo norte-americano e seus aliados, que têm tido de carregar com o peso político e social que significam milhares de mortos e feridos, assim como de uma previsível derrota. Duras realidades como o déficit fiscal, o déficit na balança comercial, a queda dos falcões: Rumsfeld, Boltón e Negroponte e a crescente atitude crítica do povo norte-americano, agudiza ainda mais a crise dos que sonharam e ainda sonham com o poder mundial, acreditando mortas e enterradas as forças que se lhes pudessem opor.
Na América Latina, não fazemos mais que descrever, pois todos conhecemos os processos: Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Equador, Brasil Uruguai e Argentina, no total, oito países, se orientam pelo desenvolvimento de modelos de governo e de sistemas diferentes ao tradicional imposto pelo imperialismo ianque. Os povos optaram pela mudança, nada os deteve, a ameaça, a chantagem, a compra de votos, as fraudes milionárias, não foram suficientes para fazer mudar a opinião de milhões que buscaram e seguem buscando uma nova alternativa.
É no marco deste cenário político que se desenvolveu e se segue desenvolvendo o Foro de São Paulo. De um partido no governo que inicialmente fazia parte do Foro, o Partido Comunista Cubano, hoje são oito as forças governantes que, ademais de ser forças no governo, foram fundadoras deste importante movimento. Assim as coisas, qualquer pessoa pensaria que o haver avançado em lutados e esperados objetivos, faria do Foro de São Paulo um impulsionador da integração da América Latina, num aríete das lutas sociais, num ente solidário com a luta dos povos, numa força capaz de buscar e propor soluções políticas a conflitos internos que se apresentam como conseqüência da iniqüidade, da injustiça e da antidemocracia.
Porém, não é assim, há os que pensam que o fato de ter chegado ao governo os separa do Foro. Segundo tal e muito respeitável forma de pensar, uma coisa é ser oposição e outra ser governo, em razão a ter que desenvolver, em alguns casos, políticas que o Foro não comparte, como a política neoliberal. Pensam que a nova condição os inibe de participar e querem um Foro menos dinâmico, que não se faça sentir, que não seja propositivo, que não lute por objetivos que foram e seguem sendo válidos.
Ante tal situação, outros pensam que se deve acabar o Foro, que o melhor é dar-lhe enterro de terceira e criar um novo movimento.
Nas FARC cremos que não são corretas as duas apreciações anteriores e, pelo contrário, pensamos que os partidos que se encontram no Foro e que fazem parte dos governos têm o espaço, o justo direito e a necessidade de pleitear em seus países o fortalecimento do movimento tal como foi criado: sem exclusões, sem imposições e sem dogmatismo. Cremos, além disso, que se deve buscar que esta organização seja mais funcional, seja um ente catalisador das opiniões dos povos que sempre estão adiante de seus governantes, porque são os que sentem como se está exercendo o governo, se é justo, se é pulcro, se é humano, se tem cumprido com o que prometeu. Ter medo à crítica que possa fazer uma organização como o Foro de São Paulo é negar sua mesma essência como governo democrático, amplo e pluralista.
Pensar em criar outra organização atirando pela borda 16 anos de experiências, de credibilidade, é desperdiçar a oportunidade de converter o Foro num ente coordenador de diferentes partidos, movimentos e organizações políticas que, respeitando as diferenças, nos ratificamos na luta contra o imperialismo, o neoliberalismo, a solidariedade e a integração da América Latina.
Fazemos um reconhecimento aos companheiros do Grupo de Trabalho pela iniciativa de ajudar na solução ao conflito social, político e armado que vive a Colômbia desde há 60 anos, a declaração de Bogotá é, sem dúvida, um documento muito importante que, com o direito que nos assiste, pedimos seja difundido entre os assistentes ao Foro.
Na Colômbia há uma intervenção direta do Imperialismo Ianque, na atualidade há 1.400 oficiais do exército estadunidense dirigindo as operações do Plano Colômbia, do Plano Patriota e do Plano Victoria. Os Estados Unidos estão instigando e financiando a guerra com o pretexto do narcotráfico e, para isso, diariamente se estão gastando 17.5 milhões de dólares para perseguir e liquidar aos lutadores sociais, revolucionários e bolivarianos.
As fumigações estão acabando com a flora e a fauna da Amazônia, são milhares de toneladas de Glifosato e Paraqua, igual que os experimentos com o Fusarium Oxiporun. Que destrói a mata de coca, porém igualmente acaba toda a flora que tenha no lugar, contamina as bacias hidrográficas, pois os troncos dos vegetais, ao serem levados pelas águas, causam imensa perda ao sistema ecológico.
Cremos ser oportuno manifestar nossa inquietação e desagrado pela posição de alguns companheiros que, em forma e sob responsabilidade pessoal, publicamente dizem que as FARC não podem participar no Foro, por ser uma organização alçada em armas. A luta armada não se criou por decreto e tampouco se acaba por decisão similar, é a expressão de um povo que sofreu a devastação de sua população em mais de um milhão de pessoas que, nestes 60 anos, foram assassinadas, é a expressão dos milhares de militantes que foram assassinados do Partido Comunista e da União Patriótica, é a expressão de milhares de sindicalistas que foram assassinados nestes últimos anos.
Aos companheiros que pensam que não podemos participar, fraternalmente os convidamos a que nos acompanhem, não no acionar militar ao que as circunstâncias nos obrigaram, pois sabemos que não a compartem e respeitamos seus pontos de vista, os convidamos a participar da busca da solução política e, para isso, os fazemos partícipes da Plataforma para um Governo de Reconstrução e Reconciliação Nacional, aprovada por nossa 8ª Conferência realizada em 1993.
Com esta Plataforma de 12 Pontos convidamos reiteradamente a todos os setores sociais, econômicos e políticos de nosso país para que nos sentemos e, entre todos, construamos a Nova Colômbia.
Ao Foro, em seu conjunto, o convidamos a que prossiga em seus pronunciamentos e acionar pela solução política ao conflito social e armado na Colômbia, passo importante para alcançar a paz com justiça social pela qual tem lutado e seguirá lutando nosso povo, ao mesmo tempo que é passo necessário para impedir que este conflito possa ser utilizado para que o imperialismo tente ações desestabilizadoras na região.
Seguimos convidando a todos os partidos políticos, organizações sociais, de estudantes, operários, intelectuais, campesinos, indígenas e a todos os que estejam contra a injustiça, a buscar uma solução política. Convidamos a que nos acompanhem na luta pelo Intercâmbio Humanitário, com o que estaremos abrindo as portas para que centenas de colombianos e colombianas regressem a seus lares para compartir com seus seres queridos.
COMISSÃO INTERNACIONAL
FORÇAS ARMADAS REVOLUCIONÁRIAS DA COLÔMBIA
EXÉRCITO DO POVO, FARC-EP
MONTANHAS DE COLÔMBIA, 7 DE JANEIRO DE 2007”.
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