VEJA
03/10/2012 - 11:28
Julgamento do mensalão
Supremo começa a definir destino da trinca petista nesta quarta. No partido, o clima é de tensão. Deputado diz que esta é a 'pior semana' da história do PT
A trinca petista formada por José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino tem motivos de sobra para se preocupar nesta quarta-feira, dia em que começa o julgamento dos três no Supremo Tribunal Federal. O relator do processo, Joaquim Barbosa, deve condená-los sob o argumento de terem comprado parlamentares no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de punir os corruptos, agora é a vez dos corruptores. Não à toa, o clima no partido é de tensão. Como informa a coluna Radar On-line, de Lauro Jardim, o deputado petista Vicente Cândido classifica esta como a "pior semana" da história da legenda.
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O voto do relator vem embalado pela divulgação da íntegra nesta terça-feira do voto do presidente da corte, ministro Carlos Ayres Britto, referente ao capítulo anterior. Filiado ao PT no passado, Ayres Britto antecipa em seu voto o que deve ser decisivo para condenar Dirceu: o relacionamento do ex-ministro com o operador do mensalão, o empresário Marcos Valério. O ex-ministro da Casa Civil disse em sua defesa que não mantinha contato com Valério.
Outro fato que deverá ser citado, a começar por Joaquim Barbosa, para condenar Dirceu é a ajuda financeira dada pelo grupo de Valério à ex-mulher do então ministro Ângela Saragoza. Ela teve ajuda de réus envolvidos no mensalão para conseguir um empréstimo no Banco Rural e um emprego no BMG. Na mesma época, Ângela vendeu seu apartamento para o ex-advogado da SMPB Rogério Tolentino, já condenado por lavagem de dinheiro.
Joaquim Barbosa também destacou o papel de José Dirceu na organização criminosa quando analisou as acusações contra dirigentes do Banco Rural que mantiveram encontros com o petista: "Não se trata de um fato isolado, de meras reuniões entre dirigentes de um banco e o então ministro-chefe da Casa Civil, mas de encontros ocorridos no mesmo contexto em que se verificaram as operações de lavagem de dinheiro".
Assim como Britto, o voto do ministro Celso de Mello, na sessão de segunda-feira, já indicava as remotas chances de absolvição de Dirceu. O decano da Corte foi explícito ao dizer que o esquema de corrupção partiu de altas instâncias do governo. Esse voto, aliás, fez surgir entre os ministros da corte a sensação de que o revisor do processo, Ricardo Lewandowski - que abraçou em votos anteriores a tese mensaleira do "caixa dois" - possa rever algumas de suas posições. "Depois do voto do Celso, o Lewandowski ficou como que um cachorro que caiu do caminhão de mudança", afirmou um dos ministros à coluna Radar On-line, de Lauro Jardim.
Além da relação entre Dirceu e Valério, os ministros devem levar em consideração os depoimentos prestados ao longo das investigações em que Dirceu é apontado como um dos responsáveis por avalizar os acordos políticos com as cúpulas dos partidos beneficiados pelo mensalão. As negociações, conforme depoimentos, ocorriam inclusive no Planalto. Esse envolvimento nos acertos políticos deve ser usado para desqualificar a alegação de Dirceu de que desde a sua posse na Casa Civil, em janeiro de 2003, afastou-se do dia a dia do PT.
Leia no blog de Reinaldo Azevedo:
O relator do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, começa a julgar hoje a parte do Capítulo VI da denúncia que trata da corrupção ativa. Entre os réus, estão José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Toda a procrastinação, toda a chicana, todas as vigarices intelectuais tornadas influentes, todas as agressões ao Supremo, todos os ataques à imprensa independente, todo o achincalhe à ordem legal, todas as teses sem embasamento jurídico, toda essa maquinaria estúpida, em suma, posta em ação buscava evitar que se chegasse ao dia de hoje. Estamos lidando com pessoas especializadas em fraudar a história, em retocar os fatos, em maquiar a realidade. Por isso mesmo, é preciso que jamais nos esqueçamos: eles se mobilizaram para que o julgamento jamais acontecesse.
Depois de montar um esquema comprovadamente criminoso para comprar a representação parlamentar, como já está comprovado pelos próprios ministros do STF, os mesmos criminosos atuaram de forma pertinaz, determinada, sôfrega até, para que o julgamento fosse para as calendas. E mostraram uma ousadia espantosa! Como revela Marcos Valério — já a caminho da cadeia — a seus interlocutores, ele recebeu a garantia do Palácio do Planalto, então sob o comando de Lula, de que não haveria julgamento nenhum! A Valério foi dito, mais ou menos como fazem os traficantes ou as milícias quando tomam conta de uma área: “Está tudo dominado!”. E, como se vê, felizmente, ainda não! Ainda há, perdoem-me repetir isto de novo!, juízes em Brasília.
(Com Agência Estado)
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